sexta-feira, 1 de maio de 2015

Bancada evangélica conquista protagonismo e já influencia políticos católicos, diz pesquisadora

A bancada evangélica atual alcançou um nível de representatividade tão forte que vem influenciando bancadas mais estabelecidas, como a dos católicos, no Congresso. Essa é a opinião da jornalista e professora-doutora Magali do Nascimento Cunha, docente da Universidade Metodista de São Paulo.
Magali desenvolve estudos sobre a bancada evangélica e afirmou numa entrevista concedida à Rede Brasil Atual que o discurso dos parlamentares evangélicos se solidificou na política porque encontra simpatizantes em outros setores da sociedade.
“A bancada evangélica, desde a sua formação em 1986, nunca teve uma pauta progressista, ou de esquerda. Os parlamentares evangélicos, até os anos 2010, não eram identificados como conservadores do ponto de vista sociopolítico e econômico, como o é a Maioria Moral nos Estados Unidos, por exemplo. Seus projetos raramente interferiam na ordem social: revertiam-se em ‘praças da Bíblia’, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. O perfil dos partidos aos quais a maioria dos políticos evangélicos estava afiliada refletia isso bem com recorrentes casos de fisiologismo”, recapitulou a professora.
De acordo com Magali Cunha, o movimento de protagonismo da bancada evangélica em direção ao conservadorismo é um capítulo recente da história do parlamento brasileiro.
“É o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da Frente Parlamentar Evangélica, que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais e dos grupos de Direitos Humanos, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católicos, diálogo historicamente impensável no campo eclesiástico”, destacou a professora.
Magali do Nascimento Cunha acredita que “este discurso tem um apelo que atinge não só evangélicos mas também católicos e outros grupos sociais mais conservadores que nem são ligados à religião”, mas que têm um pensamento parecido.
“É na última legislatura que vemos emergir uma pauta mais conservadora do ponto de vista sociopolítico e econômico entre os evangélicos, que são uma frente parlamentar estratégica, a terceira do Congresso em número. Isto é um sinal de mudança de postura tanto de boa parte dos parlamentares evangélicos, que se veem com força para pautar temas para além da moralidade sexual, como de políticos não-religiosos identificados com o conservadorismo e que veem neste grupo um aliado”, analisa a professora, identificando como o interesse político ajuda na formação desse bloco de influência onde os políticos evangélicos atuam.
Em uma espécie de balanço dos primeiros meses de atuação da bancada evangélica na nova legislatura, Magali Cunha alerta que o grupo não é homogêneo em todas as questões, mas sólido no que se refere aos princípios defendidos pela doutrina cristã.
“’Evangélicos’ é um segmento social de uma diversidade que em um parágrafo já não se pode explicar. Falamos de uma enorme gama de grupos desde os históricos ligados à Reforma Protestante, os pentecostais relacionados aos movimentos avivalistas nos Estados Unidos e na Escandinávia, aos grupos independentes nascidos no Brasil desta ou daquela experiência e que se concretizam em incontáveis denominações”, pontua.
Sobre o atual presidente da Câmara, a professora reafirma que seu posicionamento político está mais ligado à sua carreira do que à sua religião: “Eduardo Cunha não está no cargo de presidente da Câmara porque é evangélico. Está pelo seu histórico de aliado das empresas de telefonia e de liderança do PMDB. Tornou-se evangélico há pouco mais de dez anos, o que foi um reforço a mais ao seu poder de penetração e já mudou de denominação, identificando a força das Assembleias de Deus para onde migrou como membro no final de 2014, deixando a Igreja Sara a Nossa Terra, que o vinha apoiando. Portanto, a pauta de retrocessos é dele como político dos empresários e da ala mais conservadora do PMDB e o fato de ele ser evangélico reforça isso e dá mais margem de negociação a ele como integrante destacado desta que é a terceira bancada da Câmara”, conclui.
Por Tiago Chagas / via gospelmais.com.br

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