A sexualidade é assunto que atrai de religiosos a ateus, e no meio
evangélico, apesar das rígidas doutrinas de algumas denominações, a questão é
tão “incendiária” quanto em outros setores da sociedade.
O crescimento numérico de fiéis evangélicos tem despertado a curiosidade da
mídia para entender os hábitos e costumes desse público sobre diversos assuntos.
O jornal Folha de S. Paulo publicou matéria sobre a existência de sex shops
especializadas para atender a mulheres evangélicas.
A ex-revendedora de produtos cosméticos Mônica Alves, 45 anos, fiel da Igreja
Renascer, atualmente trabalha com produtos eróticos, e tem entre suas clientes,
outras fiéis evangélicas. Na lista de produtos, existem desde calcinhas
comestíveis de chocolate, que segundo ela alguns maridos degustam com uísque,
até um kit chamado “50 Tons de Prazer”, que inclui chicote, vela e venda.
Uma de suas clientes, Frances do Nascimento, também aos 45 anos de idade,
explica o apetite por produtos eróticos: “Não é porque a gente vai pra igreja
todo dia que precisa ser santa”, argumenta ela, que é recém-separada do segundo
marido e tem um filho de um ano de idade.
Fiel da Igreja Mundial do Poder de Deus, ela revela que um de seus
assessórios favoritos é o chamado “boca loca”, um minivibrador portátil em
formato de batom. “As irmãs a-do-ram os produtos”, afirma Frances, referindo-se
às colegas de igreja.
Já Nilza Antunes, 29 anos, membro da igreja Arca Sagrada, em Diadema, região
metropolitana de São Paulo, é casada há seis anos, tem dois filhos, e
interessada em produtos mais simples. “Pode usar no corpo inteiro?”, pergunta
ela à revendedora Mônica sobre o desodorante íntimo com essência de morango.
Segundo Nilza, desde que passou a usar produtos eróticos, a média de relações
sexuais com seu marido saltou de duas vezes por semana para todos os dias.
A própria Mônica diz que a vontade feminina de explorar a sexualidade supera
questões ligadas à religião. Casada com um homem 12 anos mais jovem, a
revendedora revela que a construção do clima para a prática do sexo com o marido
envolve desde a oferta de café da manhã na cama até a “festinha à noite”
diariamente. “Numa noite, eu já cheguei pulando em cima. E ele: ‘Amor, tô com
dor de cabeça’.”
Apesar de toda a desinibição, Mônica trabalha escondida de seu pastor, mas
diz que se ele descobrisse a natureza de sua ocupação profissional, já teria
resposta: “Pastor, desculpa, preciso ganhar meu dinheiro”.
Discrição é a chave do sucesso
A lojista Thaís Plaza, 33 anos, sócia de uma sex shop, afirma que os
evangélicos são mais afeitos aos assessórios eróticos: “Católicos têm mais
preconceito. Os religiosos que mais aparecem são mesmo os crentes”, diz,
revelando que 25% dos seus clientes são fiéis evangélicos.
A forma de atraí-los, conta Thaís, é a substituição de termos vulgares por
palavras como “romantismo” e “sentimentos”, e a ocultação de objetos mais
ousados, como vibradores, nas gavetas dos balcões. “As evangélicas não entram em
lugares com fotos de pessoas nuas e próteses penduradas. Querem ser atendidas
por ‘amigas’”, diz a lojista.
Segundo ela, uma de suas clientes mais assíduas é membro da rígida
Congregação Cristã no Brasil. “Ela se esconde atrás daquela árvore e me liga.
Quando abro a porta, a mulher entra correndo, suspira e pede para fechar”,
revela, frisando que o ritual se repete toda semana.
Negócio feminino
De acordo com a reportagem da Folha, o mercado de produtos eróticos no meio
evangélico é restrito às mulheres. As consultoras ouvidas pelo jornal foram
unânimes em dizer que só possuem clientes mulheres.
“Eles são mais conservadores. Preciso fazer um trabalho cuidadoso com a
cliente para o marido não ficar enciumado ou desconfiar da fidelidade dela”,
explica a representante Tarciana Valente, 29 anos.
Ela ainda observa que os produtos mais vendidos são aqueles apelidados pelas
clientes de “leves”, como gel lubrificante, que é considerado “importante porque
muitas são reprimidas sexualmente e não têm lubrificação”; e óleos perfumados,
que as clientes “gostam porque melhora o sexo oral”, diz Tarciana, que revela:
vende poucos vibradores para as clientes evangélicas, e os modelos que são
comprados, usam formato de borboleta, polvo ou ursinhos, e portanto, não seguem
um padrão “realístico”.
A explicação estaria no receio de ferir de modo mais grave alguma doutrina:
“Próteses parecidas com membros reais chocam. Eles logo associam com
promiscuidade”, observa Estela Fuentes, 26, estudante de psicologia que também
revende produtos eróticos para conhecidas. “Meu maior desafio é mostrar que
prazer não é pecado. Todo mundo precisa ter orgasmos na vida”, argumenta.
Pastor Claudio Duarte
Um dos palestrantes para casais em ascensão no meio evangélico brasileiro, o
pastor batista autor do livro Sexualidade Sem Censura afirma que “a rotina é um
assassino do relacionamento sexual, um ‘brochante’ terrível”.
A frase do pastor foi usada pelo jornal como forma de justificar o uso dos
acessórios eróticos entre os casais. De acordo com Duarte, para manter o
cônjuge interessado, é importante criar “um bom espetáculo”, e sugere: “Vai
inovando, como o Cirque du Soleil”.
O pastor afirmou, porém, que durante já foi censurado por tratar da
sexualidade de forma aberta durante um culto: “Uma senhora disse que eu não
deveria tratar daqueles assuntos porque lá é local santo. Perguntei se tinha
falado alguma mentira. Ela disse que falei verdades que não deveriam ser ditas”,
contou.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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