Certamente não existe um ser humano neste planeta que já não
tenha passado em algum momento de sua vida por decepção. A decepção, na
verdade, é deixar-se surpreender em algum momento na vida, pela atitude, reação
ou comportamento de alguém. Quando, por exemplo, uma pessoa age dentro do seu
padrão natural, não há surpresa, não há decepção. O problema se torna real
quando a atitude parece fora do comportamento natural esperado.
A Bíblia menciona Samuel que era um profeta, sacerdote e juiz
que fazia tudo por seu povo. Após tantos serviços prestados, o povo lhe pediu
um rei, que não fosse ele, nem seus filhos. "Vê, já estás velho, e teus
filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre
nós, para que nos governe, como o têm todas as nações" (1Sm 8.5).
Paulo teve muitos auxiliares. Alguns deles, como Fígelo e
Hermógenes (2Timóteo 1.15), Demas (2Timóteo 4.10) e João Marcos (Atos 15.37) o
abandonaram, infligindo muito sofrimento ao apóstolo.
Só se decepciona com as pessoas, quem se relaciona com as
pessoas. Quem não quer se decepcionar não deve se relacionar. Todos devemos
possuir a devida maturidade para enfrentarmos e administrarmos todas situações
que nos surgem no dia a dia, afinal lidamos com pessoas que são falhas e
imperfeitas. Não nos esqueçamos que decepcionar é da condição e natureza humana.
Por esta razão, Deus nos ensina a nos relacionarmos com os homens, mas não a
confiar neles. Jeremias pode não ser politicamente correto, mas é correto em
todos os outros níveis, ao declarar: "Maldito é o homem que confia nos
homens, que faz da humanidade mortal a sua força" (Jr 17.5). Há
algo em nós que precisa de cuidado. Parte de nossas frustrações relacionais
advém de erros que nós cometemos, não de falhas dos outros para conosco. Devemos
ter a visão correta da natureza humana. Não nos esqueçamos que, muitas vezes,
somos os agentes causadores da decepção.
Um dos comportamentos produtores de decepção é a expectativa
errada acerca dos outros. Esperamos demais das pessoas, esperando delas o que
não podem dar. Pais que esperam demais dos seus filhos. Filhos que esperam
demais dos seus pais. Jesus sentiu na pele sua decepção para com os homens,
quando da cura dos dez leprosos. Daqueles que receberam a cura, somente um
voltou para agradecer. Jesus, que conhecia a alma humana, mostrou aos seus
discípulos o que é a natureza humana (Lucas 17.17). Depois de ter servido por
anos ao seu povo, Samuel esperava reconhecimento pelo seu trabalho. Não
esperava ser descartado como um velho. Não esperava que seu modo de governar
fosse substituído por outro. Samuel se esqueceu do que é a natureza humana.
A decepção sempre causa consequências, seja para o causador,
ou para o que sofre. Para o que provoca decepção, quase sempre, não lhe
acontece nada. Ele decepciona hoje, amanhã, e segue a sua vida, como se nada
tivesse acontecido. Mas dificilmente é o mesmo para o que sofre, afinal dizem
que: “quem bate esquece...”. A experiência da decepção pode produzir ódio,
ressentimento, esgotamento e outras consequências.
Decepcionado com Jacó, que o enganou, Esaú ficou decepcionado
com o irmão, que fugiu de casa (Gênesis 27.41). Esaú passou o resto da vida
ressentido, desejando matá-lo. O autor da carta aos Hebreus informa que ele
nunca foi feliz, embora tentasse, por lhe ter faltado arrependimento (Hebreus
12.17).
Se o preço da decepção é alto, é mais alto ainda o preço do isolamento, da falta de relacionarmos. Após a ingratidão dos nove leprosos (Lucas 17.17), Jesus continuou a curar. Ele não desistiu de fazer o bem. Paulo apóstolo, teve uma experiência que muito nos ensina. A bíblia nos diz que João Marcos, o sobrinho de Barnabé (Cl 4.10), foi um dos que o decepcionaram (Atos 15.39), mas, anos depois, pediu a Timóteo: “Traga Marcos com você, porque ele me é útil para o ministério”, (2Tm 4.11). Paulo aceitou o desafio de voltar a confiar em Marcos, tornando-se de novo seu cooperador (Fp 2.4). Aquele que o abandonara era agora um cooperador de grande valor.
Nenhum de nós está isento de sofrer decepções, porém, jamais devemos nos deixar dominar pelas suas consequências. Vivamos normalmente a vida, nos relacionando com as pessoas, afinal não vivemos sozinhos no mundo dependemos uns dos outros.
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