quarta-feira, 29 de novembro de 2017

As Assembleias de Deus - títulos e honrarias

As Assembleias de Deus - títulos e honrarias

"O brasileiro é vaidoso e guloso de títulos ocos e honrarias chocas. O seu ideal é ter distinções de anéis, de veneras, de condecorações, andar cheio de dourados." (Lima Barreto)

Para muitos assembleianos, causa surpresa a proliferação de títulos considerados "exóticos" para os principais líderes da denominação. Ainda soa estranho, por exemplo, certas igrejas terem como seu líder máximo um "Apóstolo" ou "Bispo".

Vale lembrar, que no Mensageiro da Paz na década de 1930, quando se anunciava estudos bíblicos, obreiros como Samuel Nyströn, Gunnar Vingren entre outros, eram chamados simplesmente de "irmãos". E ser pastor naquela época, era muitas vezes viver sem salário e com muita perseguição.

Mas em 1938, segundo Silas Daniel no livro História da CGADB, "entrou em pauta o ministério de apóstolo". Concordaram os obreiros com a existência do ministério apostólico, mas rejeitaram a "consagração de apóstolos". O reconhecimento da honraria deveria ser feita pela igreja e "não dependia de um título".

Daniel esclarece: "as Assembleias de Deus nunca consagraram apóstolos, por entenderem que tal consagração não tem apoio bíblico, porém sempre tiveram o costume de denominar alguns dos grandes nomes da história da Igreja, inclusive no Brasil, como apóstolos." Entretanto, o reconhecimento só viria depois da morte do pioneiro.

Bispos de Madureira: etiqueta de mando?

Porém, Paulo Leivas Macalão ainda em vida, foi chamado de "Apóstolo do século XX"; Túlio Barros da AD em São Cristóvão (RJ), em 2004, consagrado "Apóstolo" e o seu filho Jessé Maurício "Bispo". Nesse tempo, São Cristóvão já estava rompida com a CGADB.

Em 1959, Antônio de Souza Campos, em um artigo publicado na revista A Seara, questionou o uso que alguns pastores faziam da titulação de reverendo. Para ele, tal título, além de ser impróprio, seria a aberração "de um cristianismo órfão, pobre de espiritualidade o qual para impressionar precisa lançar mão de títulos pomposos". 

Nem mesmo a nomenclatura, "pastor geral", "pastor-presidente" ou "pastor regional" foram aceitas sem contestações na década de 1950. O pastor José Menezes, no Mensageiro da Paz chamou essa prática de "anti-bíblica" e "maligna", sendo uma "etiqueta de mando" para legitimar abusos autoritários. 

Para Menezes, o objetivo dos "pastores regionais" era "empunhar o cetro da distinção" e "exercer o império do mando." Isso seria ainda um "beco de inovações, criação de leis e estatutos imprecisos, proteção a favoritos, trazer a outros com aves de arribação."

Com a evolução dos Ministérios, as ambições de reconhecimento social também cresceram. Gedeon Alencar observa em seu livro Matriz Pentecostal Brasileira, o uso das titulações acadêmicas nos periódicos da CPAD como forma de legitimação dentro da igreja. A titulação de pastor já não seria suficiente para dar peso as publicações? 

Muitas são as justificativas para o uso das nomenclaturas. Mas para muitos, o que parece mesmo é que as lideranças foram picadas pela famosa "mosca azul". Parece que Lima Barreto escreveu pensando em alguns dos nossos líderes.

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

Mensageiro da Paz, 1ª quinzena de abril de 1969. Rio de Janeiro: CPAD.

A Seara, ano VI - nº 1, ano de 1959.

http://mariosergiohistoria.blogspot.com.br

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